Quando pensamos em dor no parto, é fácil imaginar algo puramente físico — contrações, pressão e as sensações intensas que acompanham o trabalho de parto. Mas e se disséssemos que a percepção da dor não se refere apenas ao corpo? Ela também está profundamente conectada às emoções, à mentalidade e ao ambiente ao seu redor. É aqui que a Teoria do Portão de Controle da Dor entra em ação.
Essa teoria, explorada em profundidade em pesquisas científicas como a publicada na Enciclopédia Springer de Personalidade e Diferenças Individuais , nos ajuda a entender como a dor não é apenas uma experiência física, mas também psicológica e emocional. E, quando se trata de parto, essa percepção é revolucionária para profissionais de parto e famílias.
O que é a Teoria do Controle do Portão da Dor?
A Teoria do Controle da Dor , proposta por Ronald Melzack e Patrick Wall em 1965, sugere que a percepção da dor não é resultado direto de lesão ou dano, mas sim modulada pelo sistema nervoso. Essencialmente, o corpo possui "portões" na medula espinhal que controlam a quantidade de sinais de dor que chegam ao cérebro.
Essas portas podem ser abertas ou fechadas com base em uma série de fatores, incluindo estado emocional, níveis de estresse e até mesmo estímulos externos . Por exemplo, distrações ou toques suaves podem ajudar a fechar as portas, reduzindo a percepção da dor. Esse conceito ajuda a explicar por que algumas pessoas sentem a dor do parto como mais intensa ou menos controlável, dependendo de seu estado emocional, sistema de apoio e fatores ambientais.
Como isso se aplica ao parto?
No contexto do trabalho de parto, a Teoria do Controle da Dor tem implicações profundas. O trabalho de parto é intenso, sem dúvida, mas o apoio emocional e a forma como o ambiente é administrado podem impactar significativamente a forma como a parturiente vivencia a dor. Veja como:
1. Segurança e apoio emocional
Quando a parturiente se sente emocionalmente apoiada, seja por meio de palavras calmas, toques suaves ou segurança, seu corpo responde liberando ocitocina , o hormônio responsável por facilitar o trabalho de parto. A ocitocina não só ajuda o útero a se contrair, como também ajuda a reduzir a percepção da dor, desencadeando a liberação de endorfinas , os analgésicos naturais do corpo.
2. Distração e Conforto
De acordo com a Teoria do Controle do Portão, a distração desempenha um papel fundamental no controle da dor. Concentrar-se na respiração, em visualizações ou nas sensações de um toque carinhoso ajuda a fechar o "portão" para a dor. Durante o trabalho de parto, isso pode significar orientar a parturiente com exercícios respiratórios ou aplicar contrapressão na região lombar durante uma contração. Essas ações ajudam o cérebro a filtrar os sinais de dor e substituí-los por conforto e relaxamento.
3. Controle e Autonomia
A Teoria do Controle do Portão também enfatiza a importância do controle pessoal . Quando as parturientes sentem que têm algum grau de controle sobre o ambiente — como escolher posições, controlar a respiração ou ter suas preferências respeitadas — o cérebro percebe menos ameaça, reduzindo a intensidade da dor. O medo, por outro lado, abre os portões e amplifica os sinais de dor, tornando a experiência mais avassaladora.
4. Engajamento social
A simples presença da pessoa que está dando à luz também pode ter um efeito profundo na sua percepção da dor. Isso se alinha à Teoria Polivagal (que explora como as interações sociais impactam o sistema nervoso). Quando profissionais de saúde, parceiros ou entes queridos permanecem calmos, oferecem palavras gentis e mantêm contato visual, isso envia sinais de segurança ao sistema nervoso, mantendo as portas fechadas para a dor.
O que isso significa para os profissionais de parto?
Compreender a Teoria do Controle do Portão equipa os profissionais de parto com ferramentas poderosas para apoiar a parturiente no manejo da dor. Ao criar um ambiente emocionalmente acolhedor e rico em distrações, os profissionais de parto podem ajudar a fechar os portões para a dor e permitir que a parturiente se concentre nos aspectos positivos do seu trabalho de parto, como o ritmo da respiração e a sensação de apoio ao seu redor.
É mais do que apenas lidar com o desconforto físico. Trata-se de criar um ambiente onde a parturiente se sinta segura, calma e empoderada , permitindo que o fluxo natural dos hormônios guie a experiência do parto com menos dependência de analgésicos.
A lição
A Teoria do Controle da Dor nos mostra que a dor não diz respeito apenas ao corpo — é uma experiência holística que pode ser influenciada por fatores emocionais, ambientais e psicológicos. Para profissionais de parto, compreender essa teoria abre novos caminhos para ajudar a reduzir a percepção da dor e criar uma experiência de parto mais positiva.